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A atividade desta sessão é começar a pensar sobre o consentimento em nossos próprios termos. 

Use nossa lista dos diferentes tipos de atividade sexual e anote:

Se você não sentir que é o momento de colocar essa lista em prática em sua vida, está tudo bem! Fazer ou guardar essa lista pode nos dar a sensação de que temos a linguagem necessária para dar voz aos nossos desejos, queira os comuniquemos a outras pessoas, ou não. Dê-se permissão para querer o que você quer - seja a lista toda, ou nada.

Lista de referência de limites corporais para inventário de práticas sexuais da 

Identificar os mitos de culpabilização das vítimas e compreender como a violência sexual é operada por estruturas patriarcais de poder. Nunca é culpa da pessoa sobrevivente.

Sociedade, patriarcado e traumas sexuais

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Semana 5

Semana 6

Overview

Desafiaremos os mitos mais frequentes sobre consentimento, exploraremos uma definição feminista do que é consentimento, e examinaremos o consentimento virtual, para o estabelecimentos de limites na internet

Consentimento entusiástico

 Olá! Hoje aqui quem fala é Catharina e Mariana. Voltamos para a Sessão 4. Estamos felizes que você veio.

Os objetivos para a sessão de hoje são:

Como sempre, vamos começar com um exercício de aterramento!

Mariana: O exercício de aterramento de hoje é… 

sobre mover seu corpo. Às vezes, mover nossos corpos é a melhor maneira de nos ancorar. Se puder, levante-se (também pode sentar numa cadeira). Pense em uma fruta que cresce de uma árvore.Já pensou? Aqui, vamos de maçãs. Agora pense em uma fruta ou vegetal que cresce do solo. Nós escolhemos batatas. Já fez? Agora você vai se esticar para colher essas maçãs levantando os braços para o céu e tentando alcançar elas. E agora, vamos recolher suas batatas do chão. Esses tipos de exercícios fazem seu sangue fluir e permitem que seu cérebro e corpo se concentrem em outra coisa.

Catharina: Pergunta divertida: se você pudesse fazer muito bem uma atividade ou habilidade do dia para a noite, qual escolheria? 

Sabemos que as pessoas podem vir à sessão de hoje com diferentes entendimentos de consentimento. Isso não é motivo para ter vergonha – é algo que não costumamos falar em nossa cultura. Ou se falamos, muitas vezes é mal interpretado. As pessoas zombam da ideia de consentimento, como se fosse um contrato legal formal sendo aplicado no meio de um encontro sexual agradável e natural. Este mal-entendido não é aleatório. 

 Tudo isso faz parte das narrativas de culpabilização das vítimas na sociedade, voltadas para quem sobrevive. Essas narrativas enquadram o consentimento como algo que a pessoa sobrevivente deve decretar de uma forma muito específica para ser considerado “acreditável”, e não algo que quem praticou violência deve procurar – e não conseguiu – em casos de violência sexual.

 Em uma esfera mais pessoal, talvez a gente não tenha falado desde jovens sobre a importância de delimitar essas fronteiras pessoais no contexto sexual, ou mesmo sobre consentimento,  com nossas famílias, na escola, ou com nossas amizades. Ainda assim, recebemos muitas mensagens sobre as coisas às quais consentimos simplesmente por existir nos nossos corpos. Talvez tenhamos escutado que estávamos nos sexualizando por usar certas roupas ou simplesmente por ter um corpo. 

 Essa sexualização é imposta principalmente sobre  jovens – assim, quando crescemos e desenvolvemos características sexuais, nosso corpo se torna um objeto sexual, quer a gente queira ou não. E que simplesmente por existir ou vestir certas roupas, estamos “chamando” uma agressão sexual ou estamos “pedindo”, e é nossa responsabilidade impedir essa agressão. Se não, então tivemos o que “merecemos”.  

Podemos, como sempre, dizer com confiança: não foi sua culpa. Não foi sua culpa por não comunicar o consentimento da maneira ‘correta’, pelo que você disse ou não disse.

 Nossa definição de consentimento se baseará na última sessão, mostrando como o consentimento é algo abusado por pessoas que agridem para criar as condições para cometer atos de violência sexual, e não algo que fizemos de errado.No fim das contas, falar sobre consentimento expõe, da maneira mais clara, a compreensão patriarcal da sociedade de culpabilização da pessoa sobrevivente sobre sexo e violência sexual. 

Nós nos concentramos no que quem sobrevive supostamente fez ou não fez, o que essas pessoas disseram ou não disseram, o que elas “pediram” para acontecer – em oposição às condições que quem cometeu a agressão criou para coagir quem sofreu a violência e ignorar o consentimento..

Também é importante falar sobre consentimento porque faz parte da própria definição de violência sexual – violência sexual é a ausência de consentimento. 

 Essa violência sexual, como dissemos antes, pode abranger muitas coisas – atos sexuais envolvendo toque físico ou penetração, mas também a exposição forçada ao sexo,ao conteúdo sexual ou a conversas sexuais. Pode envolver o compartilhamento de informações ou imagens íntimas ou sexuais online; chegaremos a isso no final da sessão.

Falaremos hoje sobre como definir consentimento – as características do que é e o que não é, antes de passar para uma definição feminista de consentimento.

Como ponto de partida, sabemos que o consentimento é importante para todos os relacionamentos. Enquanto hoje falaremos sobre consentimento no contexto de limites pessoais, também podemos pensar em consentimento para limites físicos. Isso inclui como tratamos o espaço pessoal das outras pessoas por meio do toque, abraços, beijos e outras formas de contato. Algumas pessoas se sentem desconfortáveis ​​com o contato físico, enquanto outras adoram, e algumas gostam apenas em algumas situações. Em vez de assumir que todas as pessoas querem as mesmas coisas, precisamos perguntar, prestar atenção e respeitar o que essas pessoas estão dizendo sobre seus limites. Com consentimento, reconhecemos a autonomia das pessoas sobre seu próprio espaço e que cada uma é diferente. Assim como o consentimento sexual, os limites físicos também exigem um consentimento proativo, entusiástico e constantemente reavaliado.

 Mas hoje, estamos focando no consentimento na forma de limites sexuais. Em primeiro lugar, e crucialmente – é normal sentir desejo sexual, se você é alguém que gosta ou quer um relacionamento sexual saudável. A palavra “desejo” vem do latim “desiderare” e significa “sem estrela”, irradiando um desejo de direção. Essa direção é uma orientação - mover-se em direção a outra pessoa com respeito, empatia e vulnerabilidade. Sexo e desejo sexual não são sobre poder, desrespeito, exigências e violência. Sexo, seja no contexto de um relacionamento ou não, é algo que deve ser compartilhado, e não tomado. Envolve a autonomia de todas as pessoas envolvidas e precisa ser consensual em todas as fases do ato sexual.

Dito isso, também é normal não querer sexo! A assexualidade é um espectro de sexualidade, onde uma pessoa sente pouco ou nenhum desejo sexual. Algumas pessoas assexuais ainda fazem sexo e muitas vezes procuram relacionamentos emocionais, românticos e até sexuais, mas não têm muito desejo sexual. Algumas pessoas sobreviventes se preocupam, após o trauma, que talvez sua falta de desejo signifique que se tornaram assexuais. Essas preocupações são normais. 

 Mas para isso, diríamos que a assexualidade é uma sexualidade completamente válida que é uma propriedade inerente de uma pessoa, não uma consequência de qualquer experiência sexual que ela tenha ou não tenha tido (e mais:  não pode ser criada por fontes externas). E como qualquer outra sexualidade, não há evidências de que a assexualidade seja causada por trauma. No entanto, a diminuição do desejo ainda é uma reação normal ao trauma. Para mais informações sobre isso, acesse nossas sessões de sexualidade em nosso curso de Apoiando o Processo de recuperação de Traumas Sexuais.

A importância do consentimento nas relações sexuais ganhou muita atenção nos últimos anos, com o Movimento 

 e vários casos de comportamento sexual predatório. Por exemplo, os casos envolvendo: o magnata dos negócios Jeffrey Epstein nos Estados Unidos; apresentador Jimmy Savile no Reino Unido; cantor e compositor Ali Zafar no Paquistão e na Nigéria, 

 Em cada um desses casos, a situação foi agravada por desequilíbrios de poder extremos entre o abusador e suas vítimas, dentro de uma cultura que parecia fechar os olhos para homens ricos e poderosos pegando o que queriam e se safando. Não faz muitos anos que um homem não podia ser acusado de estupro dentro de um casamento, chamado de estupromarital, pois era considerado seu direito fazer sexo mesmo que sua parceira não quisesse. E isso ainda é verdade em alguns países.

Nos últimos 20 anos, cada vez mais lugares criminalizaram o estupro conjugal, reconhecendo que a violência sexual no contexto do casamento ainda é violência. Um marido não tem automaticamente direito ao corpo de sua esposa. Infelizmente, ainda há muito trabalho a ser feito – as duas maiores nações do mundo, Índia e China, não protegem pessoas contra a violência sexual de cônjuges.

 Mas, felizmente, agora, em muitos lugares, qualquer pessoa envolvida em um ato sexual deve dar consentimento para que esse encontro sexual seja ético e legal.

 Mas o que realmente significa o consentimento nas relações sexuais? Como é definido? A expressão “não significa não” parece inadequada para explicar todas as entrelinhas do que se entende por plena realidade e determinação do sentimento: “não quero”. Isso é muito importante no contexto da prevenção da violência sexual.

Uma definição comumente usada de consentimento é:

Consentimento significa um acordo voluntário e claramente comunicado para se envolver em atividades sexuais específicas. O consentimento é oferecido de forma livre, informada, contínua e ativamente comunicado conforme demonstrado pela fala ou por ações.

1) O consentimento deve ser concedido livremente.

 Em outras palavras, não há pressão, manipulação, ameaça ou coerção de alguém em relação a nós.

Por exemplo, uma pessoa pode ameaçar postar uma foto sensual nossa nas redes sociais se não obedecermos. Ou nos culpar por ter feito algo que não queríamos: 'Comprei para você aquele anel, você me deve isso', ou 'Se você me ama, você vai me agradar'. Ou nos assediar, insistindo várias vezes para ter contato sexual. Tudo isso é chamado de 

. Também pode incluir elogios excessivos com a intenção de nos desgastar: 'Você é tão sexy, não consigo evitar' ou 'Penso em você sem roupa o tempo todo'. Uma situação em que sentimos pressão para dizer 'sim', não é uma situação em que temos total liberdade para dar um 'não' - sem consequências ou culpa.

Ou, em uma situação diferente, pode não haver um contexto para conceder livremente o consentimento — porque o contexto em si não é consensual. Isso acontece, por exemplo, quando estamos em um casamento forçado e espera-se que façamos sexo com essa pessoas por causa das tradições sociais. Podemos ter aceitado nosso destino e tentado o nosso melhor para fazer o casamento funcionar, apesar do fato de nunca termos realmente consentido livremente a esse casamento. Como casal, podemos fazer sexo porque há uma expectativa, mas a falta de consentimento foi criada pela pressão cultural ou familiar. Portanto, qualquer atividade sexual que ocorra sem o reconhecimento da situação forçada, não seria consensual. Isso é injusto. Nas comunidades do sul da Ásia, os homens também são frequentemente forçados a se casar. E o mesmo vale para eles. Também é importante reconhecer que o estupro conjugal não precisa ser fisicamente violento. A violência emocional dói tanto quanto a física.

Catharina: 1)Para dar consentimento, devemos estar conscientes.

 O consentimento não pode ser dado se uma pessoas estiver sob influência de álcool e outras drogas dormindo ou inconsciente.

Há também pessoas, como crianças, que não têm capacidade legal para dar consentimento. Também podemos ter certas deficiências de aprendizado ou cognitivas que não permitem a capacidade de consentir – o que significa que somos vulneráveis ​​a pessoas predatórias.

Mariana: 2)O consentimento é específico

. Dizer sim a uma coisa, como beijar, não significa que consentimos com outros atos sexuais. Isso também significa que, se dizemos “sim” para uma atividade sexual com alguém muitas vezes antes, ainda podemos dizer “não” desta vez.

Então, em um casamento ou relacionamento de longa data, nós temos o direito de dizer ‘não’ ou não dar consentimento, mesmo que um determinado ato sexual tenha ocorrido mil vezes antes! Cada vez que o comportamento sexual é iniciado, o consentimento deve ser dado.

3)O consentimento é reversível e pode ser retirado a qualquer momento.

 Mesmo que tenhamos dito “sim” a algo no início, podemos dizer “não” mais tarde, ou mesmo no meio do ato. Ir para a casa de uma pessoa que acabamos de conhecer, por exemplo, não é consentir em fazer nada, mesmo que a gente tenha ido lá com a expectativa de que iríamos. O consentimento não tem limite de tempo, prazo ou ocasião que o torne inaceitável. E como dissemos, o estupro conjugal é real: casamento não é um “sim” automático que não pode ser revertido.

Mariana: 4) O consentimento é informado.

 Em outras palavras, devemos estar cientes do que está acontecendo, ou prestes a acontecer, sem engano: por exemplo, se preservativos ou anticonceptionais serão usados, ou que certos atos sexuais são proibidos. A linguagem é importante: por exemplo, a frase "ficar" pode significar sexo para outra pessoa, enquanto para nós significa apenas beijar. Se concordamos em 'ficar', mas queríamos beijar, então não demos consentimento para a relação sexual. Ninguém pode nos subestimar e afirmar que demos consentimento, simplesmente porque eles “entenderam mal” nossos termos – e nós não temos que compensar sua decepção ou dar prêmio de consolação.

5) O consentimento não é dado livremente se alguém tem poder ou autoridade sobre outra pessoa e está abusando dessa posição.

 Isso significa que chefes, pessoas responsáveis por nossas notas, alguém da família que administra nossas finanças ou qualquer pessoa que use sua autoridade sobre nós e nos faça sentir desconfortáveis.

Sabemos que discutimos muito sobre o patriarcado! Mas os desequilíbrios de poder também podem ocorrer nas maneiras pelas quais as mulheres são socialmente condicionadas para atender às necessidades e emoções dos homens ou daqueles em posições de autoridade, ou para manter a paz e não “causar transtornos”. Muitas vezes, devemos administrar ou considerar a raiva e a agressão das outras pessoas, seja para proteger nossas finanças ou nosso bem-estar físico e emocional.

Os exemplos que demos anteriormente sobre Epstein, Savile, Zafar e Fatoyinbo são representativos de desequilíbrios estruturais de poder. Indivíduos que detêm menos poder podem sentir que não podem resistir ou recusar os avanços sexuais de alguém que a sociedade considera acima deles. Podemos sentir – ou saber – que ninguém acreditaria na gente, que levaríamos a culpa e nos tornaríamos ainda mais vulneráveis.

Populações racializadas, pessoas refugiadas e migrantes são frequentemente menos capazes de resistir à coerção sexual. Podemos ter menos liberdade para dizer “não” sem consequências para nossa segurança ou meios de subsistência, ou podemos nos preocupar em receber algum tipo de punição por nossa comunidade se falarmos.

Ou, sobreviventes de uma comunidade marginalizada podem se sentir desconfortáveis ​​em denunciar o abuso à polícia, porque sabemos que quem praticou a agressão enfrentará consequências violentas e opressivas. Por exemplo, pessoas negras enfrentam tratamento injusto e violento do sistema de justiça legal, o que significa que, nesse contexto, uma pessoa sobrevivente negra pode ter receio de falar a verdade sobre quem cometeu a agressão se essa pessoa também for negra.

 Este último ponto também nos permite começar a desenvolver nossa definição feminista de consentimento. Como uma sociedade patriarcal que culpa as vítimas, nós nos concentramos no consentimento como o que foi ou não dito no momento. Mas o contexto social em que o consentimento foi dado é necessário. Uma pessoa  jovem trabalhadora migrante que fala pouco da língua de seu novo país tem o poder de dizer livremente “não” ao seu empregador, um homem branco rico que pode denunciá-la às autoridades de imigração e ameaçar seu status no país? Não, obviamente não. Pessoas predadoras usam a coerção de muitas formas – drogas e álcool, explorando o estigma do divórcio ou abuso, qualquer tipo de desequilíbrio de poder, relacionamentos de família– para praticar a violência sexual. Portanto, entender o contexto, incluindo a dinâmica de poder, é crucial.

Nossa discussão sobre consentimento, então é realmente sobre 

 livre, aberta e honesta entre seres humanos. É sobre liberdade, conexão e escolha. O consentimento não é um contrato — é uma forma de nos comunicarmos; é um caminho que escolhemos para nós, de maneira conjunta.

 É por isso que o consentimento não pode existir se uma pessoa usa ou abusa de seu poder sobre outra. Envolve ter todos os fatos e ser capaz de tomar uma decisão informada sobre o ato de dar consentimento. O consentimento também deve ser comunicado de forma clara; 

nunca está implícito ou nas entrelinhas

. Ninguém pode presumir que o consentimento é dado se uma pessoa flertar, ou tiver um histórico sexual, ou mesmo se essa pessoa tiver participado de um ato sexual com a gente no passado.

Agora, sabendo que o consentimento não é apenas uma reação a um comportamento ruim, mas sim um direito humano fundamental, podemos expandir nossa noção de consentimento. Não se trata apenas de “nãos” ou “nãos” implícitos, ou seja lá o que nos disseram que é. O consentimento deve ser entusiástico – um reconhecimento do direito de cada pessoa à autonomia sexual.

 A feminista e ativista Jacklyn Friedman descreve esses aspectos como sendo parte do 

, o termo que escolhemos para usar como título desta sessão. Em seu livro, '"Sim significa sim: visões do poder sexual feminino e um mundo sem o estupro', Friedman fala sobre relacionamentos saudáveis, onde cada parte tem autonomia, negocia o que quer, respeita a outra e pode desfrutar das interações sexuais que fazem parte da relação. Realmente, queremos nos basear na ‘alegria’ dessa ideia. Não importa se temos uma relação com uma ou várias pessoas, esses são os princípios de um relacionamento saudável.

Friedman fala sobre a importância de estabelecer limites pessoais e expectativas, baseando-se no respeito e não na manipulação. Sinais de alerta ocorrem quando esses limites são violados ou se a autonomia de alguém não é respeitada. Ela quer que cada pessoa expresse seu consentimento com confiança e entusiasmo, sabendo que isso é fundamental para um relacionamento saudável. O consentimento entusiásticodeve ser sobre maneiras pelas quais podemos ter alegria, nos relacionamentos e em nossos corpos.

 Esta é a nossa definição feminista de consentimento – que é dada 

Alguns pontos finais sobre consentimento antes de passarmos a alguns exemplos. Nós amamos definir as coisas aqui no Bloom.

Mariana: O consentimento nem sempre é verbal.

 Embora o consentimento verbal seja importante, pois geralmente é direto e claro, a comunicação não verbal, como a linguagem corporal, também é importante para determinar o consentimento. Por exemplo, afastar alguém é um forte exemplo de um “não”. Mesmo a passividade ou o não envolvimento deve levar a outra pessoa a perguntar se está tudo bem. Não é irracional pedir ou esperar que a pessoa tenha entendido que não estávamos consentindo. Além disso, dizer 'sim' nem sempre é consentimento pelos motivos que acabamos de falar. A pessoa pode ter sido pressionada a um “sim” ou, se não tiver capacidade no momento, como uma criança ou uma pessoa bêbada, pode dizer “sim” – mas isso ainda não é consentimento.

 Sob nenhuma circunstância o silêncio deve ser interpretado como um “sim”. Muitas vezes, as pessoas que cometem violência sexual argumentam que o silêncio é “ambíguo” – e usam essa suposta “ambiguidade” para afirmar seus próprios desejos e vontades, e a sociedade perdoa isso. Em quase nenhuma outra situação a falta de resposta é entendida como um “sim” – é um sistema patriarcal violento que distorce o silêncio para significar outra coisa.

“Mas pedir consentimento não acaba com o clima?”

 Achamos que faz o contrário: dá segurança e conforto a todas as pessoas envolvidas e permite que elas relaxem. Em vez de fazer com que cada pessoa se pergunte ou se preocupe sobre até onde ir, ou o que pode ser esperado, ou quando parar, discutimos essas coisas. Perguntas como: “Posso te beijar?” ou “Você se importa se a gente deitar no sofá?” ou “Até onde você quer que eu vá?” são úteis para estabelecer limites saudáveis, envolventes e afirmativos. E pode até ser sexy, se esse é o clima que a gente quiser!

E quanto à Internet e ao consentimento online?

Queríamos falar brevemente sobre os limites sexuais no contexto da internet. À medida que mais e mais interações sociais acontecem online, a importância de limites digitais informados e saudáveis ​​não pode ser subestimada.

Mas em primeiro lugar, uma verdade central: 

você merece estar em tanta segurança em espaços online como em espaços físicos.

 À medida que falamos de como estar cientes do comportamento predatório online, não queremos dizer que as pessoas não devem fazer isso, ou que ser sexual online é de alguma forma convidar alguém a violar nossos limites. Nós apenas mencionamos essas coisas, como sempre, para informar e capacitar. Queremos nos informar sobre o risco e nos capacitar com o entendimento de que, apesar desses riscos e realidades, fundamentalmente merecemos segurança em todos os espaços; não importa como pessoas predadoras escolham explorar nossos limites. Nós sempre, sempre, sempre merecemos consentimento.

 Então, um tipo de comportamento sexual online em que muitas pessoas se envolvem é o 

é uma palavra em inglês que une a expressão “text” – gíria para enviar mensagens–  e “sex” – que significa sexo–, e envolve o envio de imagens sexuais da gente, ou de outra pessoa, usando mensagens de texto ou redes sociais. Nossa sociedade normalizou muitos comportamentos de 

 predatórios – compartilhar fotos com pouca ou nenhuma roupa, chamadas “nudes” de alguém comoutras pessoas, por exemplo – mas,  ainda assim, merecemos consentimento. Em termos de consentimento, o que devemos esperar como linha de base é: se alguém quiser tirar uma foto ou um vídeo em contexto sexual nosso, deveríamos ter a chance de decidir se vai ser tirada ou não! 

Em segundo lugar, se alguém quiser compartilhar as imagens ou vídeos além das pessoas envolvidas na atividade sexual inicial, o consentimento deve ser obtido de todas as pessoas envolvidas. Como, onde e quando será compartilhado é crucial – assim como a oportunidade de retirá-lo de onde quer que seja compartilhado, a qualquer momento. Lembre-se, o consentimento é reversível.

 Uma preocupação que muitas pessoas têm com o 

 é que uma imagem sexual pode permanecer em um site e, quando um relacionamento termina, a outra pessoa ou pessoas ainda têm essa imagem – e podem enviá-la para ainda mais pessoas, com características que podem levar alguém a descobrir sua identidade. Infelizmente, o 

 nunca é infalível – pessoas predadoras geralmente exploram que uma imagem não pode ser “des-enviada” e que terríveis configurações de segurança significam que muitas vezes há poucas oportunidades de derrubá-las depois de postadas. Infelizmente, pessoas que nos agridem podem explorar o anonimato que o espaço virtual lhes dá para causar mais danos.

Isso não significa que não devemos enviar fotos nuas ou que devemos esperar sofrer violação– significa apenas que estamos cientes do risco. E a maneira como as empresas de mídia social e outras agências estão falhando em nos manter em segurança.

Não queremos que esta seja uma conversa assustadora. E como sempre, merecemos estar em segurança em todos os espaços. Compreender nossa segurança e saber que existem maneiras de nos proteger pode ser empoderador.

 Portanto, esperamos que esta sessão tenha lhe dado alguma compreensão de como podemos falar sobre consentimento de maneira que reconheça o que ele realmente é. É um direito, uma liberdade, não apenas uma lista de “sim” e “não”, mas um contexto sob o qual essas respostas podem ser dadas livremente. Pessoas predadoras nos negam essa liberdade – ignoram nossa opinião, intimidam qualquer tentativa de comunicar o consentimento ou criam condições nas quais não podemos consentir. E nos dizem que são nossas ações que comunicaram esse consentimento, e não uma liberdade que foi abusada ou tirada de nós.

Mas não é verdade. O consentimento é uma liberdade e pode sempre, sempre ser alterado. Esperamos que, no mundo de hoje, possamos ensinar melhor a nós e às pessoas jovens– que temos o direito à autonomia sobre nossos corpos e identidades. Isso é que é consentimento.